Risco de Trombose em pacientes que usam Pílula

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A trombose é uma complicação rara, relacionada a diferentes situações clínicas e também ao uso de pílula anticoncepcional. Apesar dela ser a escolha de 61% das brasileiras (14 milhões de pessoas),  segundo dados do IBGE,  relatos de casos de trombose associado ao medicamento têm preocupado as mulheres.

Mas, será que existe motivo para preocupação? Qual o risco real?

De acordo com o Dr. César Fernandes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), esse crescimento se deu pela falta de informação sobre o real risco de trombose devido ao uso das pílulas anticoncepcionais. Ele ressalta que a trombose venosa é uma complicação rara, relacionada à diferentes situações clínicas e a soma de diversos fatores de riscos.

Que tal esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto?

O que é trombose?

Tromboembolismo Venoso é a formação de um coágulo de sangue (trombo) dentro de uma veia que causa obstrução e interrupção do fluxo de sangue em determinada parte do corpo.  Uma das formas mais comuns de trombose é quando o trombo de sangue se forma nas veias profundas das pernas, o que chamamos de Trombose Venosa Profunda (TVP). O trombo pode soltar-se e migrar para outras áreas do corpo, como os pulmões, originando o Tromboembolismo Pulmonar (TEP). Outros locais podem ser acometidos pelos trombos, como a retina, os membros superiores e o cérebro.

Qual é o real aumento do risco de uma mulher desenvolver trombose?

Para se ter uma ideia da dimensão do risco de trombose nas diferentes situações, nas usuárias de pílulas anticoncepcionais o aumento do risco de trombose em comparação ao risco de não usuárias é duas vezes maior, sendo esse risco mais evidente no primeiro ano de uso e concentrado em pacientes acima do peso e com idade mais avançada. Isto equivale dizer que o risco absoluto de trombose em usuárias de qualquer tipo de pílula é menos de 1 para 1.000 usuárias-ano. Por outro lado, na gravidez e no período pós-parto o risco é de cerca de 15 a 30 vezes maior em comparação ao risco de não usuárias, ou seja, muito maior que o risco atribuído ao uso de pílula anticoncepcional. Na mulher obesa com menos de 30 anos, o risco pode aumentar 19 vezes, e na mulher obesa com mais de 30 anos, o risco aumenta até 51 vezes.

Risco de trombose por perfil de mulheres

Quais são os fatores de risco para trombose?

Não só os anticoncepcionais hormonais e os medicamentos usados para a terapia hormonal da menopausa aumentam o risco do desenvolvimento da trombose. Outros fatores importantes devem ser lembrados, como: idade acima de 35 anos, obesidade, períodos prolongados de imobilidade (cirurgias, fraturas, acidentes, viagens longas aéreas ou rodoviárias), tabagismo, câncer, sedentarismo, doenças pulmonares e/ou cardíacas, pressão alta, diabetes, histórico familiar de trombose, gestação e puerpério imediato (período pós-parto até 45 dias), além dos distúrbios genéticos da coagulação (trombofilias).

Existe risco de trombose no período da gravidez e no pós-parto?
Como as pílulas anticoncepcionais interferem no risco de trombose?

Os hormônios sexuais produzidos pelo organismo ou aqueles administrados para anticoncepção ou terapia hormonal da menopausa levam a alterações no sistema de coagulação do sangue (hemostasia). A maioria das pílulas anticoncepcionais é composta por dois hormônios, um deles é um estrogênio sintético representado pelo etinilestradiol ou estradiol; e o outro componente é um progestagênio, grupo bem mais variado de hormônios, que foram desenvolvidos e aprimorados ao longo do tempo.

O estrogênio contido na formulação das pílulas anticoncepcionais pode atuar no fígado estimulando a formação de fatores de coagulação e consequentemente a formação de trombos. Vale destacar que todos os métodos anticoncepcionais hormonais que contêm estrogênio (pílula, anel, adesivo, injeção mensal) podem aumentar o risco de trombose nas mulheres suscetíveis.

O risco de trombose é igual para todas as pílulas anticoncepcionais?

O estrogênio é o principal responsável pelo aumento dos fatores de coagulação e, portanto, quanto maior a dose deste hormônio, maior é o risco de desenvolver trombose. A maioria das pílulas atuais anticoncepcionais apresenta baixa concentração de estrogênio, são as chamadas pílulas de baixa dose hormonal. Nos últimos anos, alguns estudos indicaram que as pílulas mais atuais, com progestagênios de terceira e quarta geração, teriam maior efeito na coagulação em comparação às pílulas mais antigas de segunda geração. Entretanto, além da diferença de risco de trombose entre os diferentes tipos de pílula ser mínima, com pouco impacto clínico e biológico, esta é uma questão que ainda não está totalmente esclarecida. Estudos futuros são necessários para determinar se o risco de trombose associado com o uso das pílulas mais modernas determina maior risco de trombose em comparação às pílulas mais antigas.

Mulheres que usam outros métodos hormonais combinados também podem apresentar risco de desenvolver trombose?

Todos os métodos anticoncepcionais hormonais que contém estrogênio podem aumentar o risco de desenvolvimento de trombose, inclusive o adesivo, o anel e a injeção mensal.

Qual o efeito das pílulas no tromboembolismo arterial?

No tromboembolismo arterial, condição representada pelo infarto do miocárdio e derrame cerebral ou AVC, a obstrução ocorre no vaso arterial (vasos que levam sangue oxigenado com nutrientes para os órgãos). A obstrução do vaso arterial é decorrente da formação de uma placa de gordura na parede da artéria. As causas e os fatores de risco do tromboembolismo arterial são diferentes dos fatores de risco do tromboembolismo venoso. Fatores de risco como hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado, obesidade, sedentarismo e tabagismo representam as principais condições para o desenvolvimento do tromboembolismo arterial. Estudos científicos atuais mostram que não há aumento significante no risco de infarto ou derrame em mulheres saudáveis e não fumantes usuárias de pílulas anticoncepcionais, mesmo quando consideramos a idade da paciente. Essa evidência vale para qualquer tipo de pílula anticoncepcional de baixa dose hormonal.

Como escolher o método anticoncepcional mais adequado?

Na indicação de qualquer método anticoncepcional, você e seu médico devem considerar não apenas a eficácia contraceptiva do método, mas também os benefícios adicionais, mediante as suas necessidades individuais. É importante que o médico, antes de indicar qualquer método anticoncepcional, leve em conta uma cuidadosa avaliação dos fatores de risco de trombose (como problemas de saúde, obesidade e histórico familiar).  Ou seja, temos que ter em mente que não existe “o melhor anticoncepcional”. Existe “o mais adequado para cada mulher” e que essa decisão sempre deve considerar inúmeras variáveis, incluindo preferências, benefícios, riscos e contraindicações de cada método.

Fonte: FEBRASGO